Quando eu dizia, há dois anos atrás, que vinha morar em Bari, muitos perguntavam
espantados: "- Em Bali?! Por que tão longe?", ou então: "Bari...
Bariloche?". Não bastava dizer somente Bari, tinha que dar as coordenadas
geográficas: sul da Itália, no salto da bota, às margens do mar Adriático, com
vista pra Grécia e pra Albânia, só assim ia situando um pouco as pessoas. Hoje
estou aqui, em Bari, capital da Puglia, e finalmente decidi contar parte dessa
aventura. Este blog vai ser uma espécie de colcha de retalhos, se eu tiver tempo
pretendo falar de tudo que gosto e me interesso, mas quero principalmente falar
desta terra fantástica. Bem-vindos!

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

11 - FEDERICO II FOI O CARA! OU MAIS UM POUCO DE HISTÓRIA

Assim como a figura de San Nicola está profundamente ligada a Bari, a de Federico II está unida a toda a Puglia.
Ele foi realmente o cara!  Conhecido pelo apelido de stupor mundi, a maravilha do mundo, fez do seu reino um lugar de encontro entre as culturas grega, latina, árabe e hebraica. Foi um rei intelectual que falava nove idiomas, estudava filosofia, astrologia, matemática, medicina e ciências naturais. Criou em Nápoles, em 1225, a primeira Universidade pública e laica do Ocidente. Todo o sul da Itália tem herança dos tempos de Federico II,  que reinou na Idade Média, foi coroado rei no ano 1198, com apenas 4 anos de idade, e reinou até sua morte em 1250. Se chamava Federico Ruggero Hohenstaufen, descendia pelo lado paterno da nobre família sveva dos Hohenstaufen, e pelo lado materno descendia da dinastia normanna dos Altavilla que reinavam na Sicília.

O nascimento de Federico II é uma história que me impressionou desde a primeira vez que a li.
Conta-se que a mãe de Federico, a imperatriz Constanza D’Altavilla, filha do rei da Sicília, Ruggero II, passava pela cidade de Jesi, na região do Marche, dirigindo-se a Palermo pra encontrar o marido, Enrico VI, que havia sido coroado rei no dia anterior, dia de Natal. A gravidez de Constanza era motivo de desconfiança por parte da população, já que a imperatriz tinha uma idade avançada, assim, foi montado uma espécie de coreto no centro da praça de Jesi e a imperatriz foi obrigada a dar à luz publicamente,  única forma de mostrar ao povo que aquele que nascia era realmente o herdeiro do trono. Como se diz em italiano, povera donna!, traumatizada pro resto dos seus dias.

Federico ficou órfão aos quatro anos, e já coroado rei da Sicília, ficou sob a tutela do papa Inocêncio III. Em 1212 foi coroado rei da Alemanha e Imperador do Sacro Romano Império,  e em 1225, rei de Jerusalém. Pelos seus títulos é possível entender a extensão dos seus domínios.  Mas foi a Puglia que Federico escolheu para viver a maior parte da sua vida. Amado e odiado, aqui deixou além de castelos,  tantas histórias e tantas lendas. 
Amanhã conto mais sobre ele, e mostro a sua mais bela obra arquitetônica na Puglia.

Retrato de Federico II com um falcão, que ilustrava o livro escrito por ele sobre a arte da falconeria, era um apaixonado pela caça com falcão.
O reino da Sicilia na época de Federico II. Envolvia as atuais regiões Sicilia, Calabria, Campania, Basilicata, Molise, Abruzzo e Puglia. O mapa mostra todos os domínios de Federico II na Europa.
Este é o Castelo Normanno-Svevo de Bari. Se chama assim porque primeiramente foi construído pelo rei normanno Ruggero II, depois de sofrer uma destruição, foi reconstruído por Federico II, rei svevo. (foto: web - sem autor)
O Castelo Svevo de Bari é museu e abriga exposições temporárias. Está melhor conservado externa do que internamente. O preço da entrada é de 2 euros. A entrada é gratuita para professores e pessoas com mais de 65 anos. Aqui uma foto do castelo durante a exposição sobre o translado do corpo de San Nicola a Bari.
Castelo Svevo da cidade de Trani, na província pugliese de Barletta-Andria-Trani.

Castelo Svevo da cidade de Barletta, na província de Barletta-Andria-Trani. (foto:web - sem autor)

Neste mapa, que mostra todas as regiões da Itália, é possível ver a região do Marche, perto da Umbria, onde nasceu Federico II.

Entardecer no Castelo Svevo de Trani

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

10 - PUGLIA - UM POUCO DE HISTÓRIA

Meus conhecimentos sobre a história da Itália sempre se limitaram ao Império Romano, ao Renascimento, à Unificação (acho que por causa do Garibaldi), e à participação da Itália na Segunda Guerra Mundial.  Nunca fui além daquilo que estudei no colégio.  Quando vim pra Puglia comecei a ouvir dezenas de nomes e referências completamente desconhecidos pra mim.  No centro de Bari, por exemplo, se encontra o Castelo Normanno-Svevo, de Federico II.  - E quem é o tal Federico II? perguntei. –Ma come? Non sai?!!! Então, pra evitar caras de espanto, e como sou muuuiiito curiosa decidi começar a estudar um pouco a história da região, história que também se confunde com outras partes do sul da Itália. Descobri que a quantidade de informação é interminável!  Mas não se preocupem, pois não pretendo aprofundar, até porque não sou professora de história, e nem este é um blog sobre o assunto. Mas acho que um mínimo de conhecimento não faz mal a ninguém, não é mesmo?

A formação da Puglia, assim como a de toda a Europa, é o resultado da mistura de povos que invadiram este território e deixaram vestígios por todas as partes. Os primeiros que desembarcaram na Puglia foram os Iapigi ou Japigi, provenientes do outro lado do Adriático, mais ou menos onde hoje é a Albânia e Montenegro, deu pra se localizar?  Isto aconteceu há uns dois mil anos a. C. Este povo misturou-se aos “nativos” da região e deram origem a outros três grupos étnicos: os dauni, os peucezi  e os messapi. Respectivamente os dauni ocuparam a parte da Puglia que hoje é a província de Foggia, os peceuzi, a parte que hoje envolve as províncias de Bari e Barletta-Andria-Trani, e os messapi a parte sul, chamada Salento, uma sub-região geográfica onde se encontram as províncias de Lecce, Brindisi e Taranto.   Aí está o mapa pra ajudar!

O nome Puglia vem do povo Iapigi, que os romanos em latim chamaram de Apuli, e a região, consequentemente, Apulia.  Em português o nome se manteve como em latim, e em italiano passou a ser Puglia. Mas continuando nossa historinha, a partir do século VIII a. C. chegaram os gregos e se estabeleceram na região do Salento, principalmente onde hoje é a província de Taranto, e fundaram ali, em 706 a.C. um importante porto comercial. Essa parte da Puglia era e ainda é chamada Magna Grecia. Algumas cidadezinhas ainda conservam dialetos que têm origem no grego antigo.

Os romanos conquistaram a região em 260 a.C., e um dos seus grandes objetivos foi dominar o porto de Brindisi, um importante caminho pra conquista romana dos balcãs e da Grécia. A Puglia foi uma região muito estratégica pra expansão do Império Romano, tanto que a famosa via Appia que começava em Roma vinha até Brindisi.





                             Em branco o traçado da Via Appia, e em rosa a Via Trajana, que passava por Bari.


Após a queda do Império Romano do Ocidente em 470 d.C. (restando apenas o Império do Oriente que tinha Constantinopla como capital) a Puglia foi invadida por bizantinos, bárbaros e árabes.  Em 870 d.C. Bari foi totalmente conquistada pelos bizantinos e se transformou no maior centro político, militar e comercial do Império Romano do Oriente, na Itália, é o período em que trouxeram o corpo de San Nicola pra Bari, lembram do post anterior? Enquanto isso Taranto tinha sido dominada pelos árabes que ali haviam instituído um emirado.  Em 1070 d.C. dois povos bárbaros, os longobardi (estabelecidos no norte da atual Alemanha) e os  normanni (bárbaros escandinavos), venceram os bizantinos, mandaram os árabes pra casa, e se apoderaram da Puglia.  Após a queda dos normanni , por volta de 1200 d.C. a Puglia passa ao domínio dos svevi, outro povo bárbaro germânico que habitava o sul da atual Alemanha, onde se encontra o estado da Baviera.  Os svevi  trouxeram à região um grande crescimento e esplendor artístico e cultural através do imperador Federico II.  Taí! Depois desse micro-resumo histórico, que nem doeu, né? Chegamos no grande Federico II, e ele é o assunto de amanhã.
A dopo!




Sítio arqueológico de Egnazia, na província de Brindisi, são restos da civilização Messápica.

Escultura em mármore do séc.IV a.C., obra da civilização daunia. (Foto by Maredentro)

Ruínas do anfiteatro romano no centro da cidade de Lecce, na região do Salento, sul da Puglia.


quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

09 - BARI E O PAPAI NOEL

O Natal está quase chegando e desta vez  me sinto na obrigação de contar pra vocês a verdade sobre Papai Noel. Passei a minha vida pensando que o Papai Noel morava na Lapônia ou em qualquer lugar perto do Polo Norte, e não é que foi preciso vir morar em Bari pra descubrir que moro na mesma cidade do Bom Velhinho?! Ho Ho Ho!  Mas vejam se eu não tenho razão? O Papai Noel nasceu da figura holandesa de Sinterklass, ou Santa Claus, assim chamado ainda hoje em muitos países do norte da Europa e nos Estados Unidos, personagem fantástico de barba branca que veste roupa vermelha semelhante a de um bispo. Pois bem, por sua vez, este personagem deriva de São Nicolau, bispo da cidade de Mira, na atual Turquia, que viveu aproximadamente entre os anos 270 e 343. As histórias sobre sua vida são muito imprecisas, porém conta-se que nasceu em uma família rica e ficou órfão muito cedo herdando uma certa fortuna que usou em obras de caridade, ajudando principalmente as crianças pobres. Uma das famosas histórias atribuídas a ele é a de ter salvo da prostituição três filhas de um homem que não podia pagar o dote do casamento,  jogando três sacos de moedas de ouro através da janela em três noites consecutivas, fazendo com que as  filhas tivessem o dote para casar-se.  Também em uma oportunidade parou uma tempestade salvando a todos os marinheiros que estavam num barco.  São muitas as lendas a seu respeito, que acabaram associando a sua imagem à ajuda às crianças e à distribuição de presentes. Mais tarde virou o protetor das crianças, dos marinheiros e das moças solteiras. Sua fama e culto espalharam-se rapidamente por todo o Mediterrâneo oriental: Turquia, Grécia, países eslavos e sul da Itália, e é aí que Bari entra na nossa história.    Naquele período Bari estava sob o domínio bizantino, era uma cidade com um importante porto comercial que rivalizava com Veneza.  Em 1087 a cidade de Mira onde estava enterrado São Nicolau foi invadida pelos muçulmanos, imediatamente duas expedições partiram ao mesmo tempo, uma de Veneza e a outra de Bari, com o objetivo de salvar os ossos do santo das mãos dos “infiéis”. A expedição que levava 62 marinheiros bareses chegou primeiro  e voltou à Bari trazendo as relíquias do santo, a partir de agora, em italiano, San Nicola (com a sílaba tônica em “co”).  Dois anos depois o corpo do santo foi colocado na cripta da Basílica construída em sua homenagem. Desde então San Nicola foi declarado patrono de Bari e o dia 6 de dezembro (data da sua morte), e 9 de maio (data da chegada do corpo à Bari) foram declarados dias festivos.  Rapidamente Bari virou cidade de peregrinação e de união religiosa entre oriente e ocidente, pois San Nicola é venerado pela igreja católica e pela igreja ortodoxa. Bari passou a receber anualmente milhares de peregrinos que vêm até aqui prestar devoção ao santo. A figura de San Nicola e a cidade de Bari se fundiram, e hoje uma não vive sem a outra, Bari é impensável sem San Nicola, a sua presença está em todas as partes da cidade e no cotidiano dos bareses, e San Nicola ganhou a cidadania barese passando a chamar-se oficialmente San Nicola di Bari, e se San Nicola é de Bari, o Papai Noel também é!
San Nicola tem uma enorme iconografia, isto é, sua imagem é representada de muitas maneiras. Aqui temos à direita uma das imagens da igreja ortodoxa, ao centro San Nicola representado com as três bolas de ouro que se referem aos três sacos de moedas de ouro dado às irmãs que não tinham o dote para casar, à esquerda acima San Nicola com as crianças, e abaixo uma representação que mistura San Nicola e Santa Claus.

A Basílica de San Nicola, construída entre 1089 e 1197, fica no coração de Bari Vecchia, a poucos metros do mar, e é uma das grandes construções do estilo românico pugliese. (Foto:web)

Altar da Basílica

A cripta da Basílica, onde está San Nicola. Aos domingos se realiza aqui a missa ortodoxa. É a única igreja no mundo em que os dois cultos, católico e ortodoxo, convivem.

San Nicola levado em procissão no dia 9 de maio.



sábado, 26 de novembro de 2011

08 - BATENDO NO POLVO

Lembram do Paul, aquele polvo que ficou famoso durante a Copa do Mundo de 2010 porque acertava o resultado dos jogos? Pois é, o Paul aqui não teria tempo de alcançar a fama porque iria direto pra mesa, mas não sem antes levar uma surra.
O mar Adriático é prolífico em polvos, e o molusco é apreciado por todos. Na verdade a Puglia é conhecida em toda a Itália pela qualidade dos frutos do mar, parece que esta parte sul do Adriático tem algo de especial nas suas águas que faz com que o peixe seja especialíssimo, e dizem que os bareses são os únicos italianos que se deliciam comendo frutos do mar crus. Eles gostam de sentir o sabor do mar,  e por isso temperam muito pouco tudo o que pescam, um pouquinho de limão, sal pra quê, afinal o bicho vem do mar e portanto já vem salgado. São devorados crus lulas, sepias (parente da lula), mexilhões, ostras, ouriços do mar,  mariscos diversos (noci di mare, cannolicchio, e outros tantos nomes), e ele o polvo. Uma vez tirado do mar, nosso amigo Paul precisa ter a carne amaciada pra não ficar parecendo um chiclé e também pra aumentar o valor do produto. Quanto mais macio maior a procura. E como sabemos que aquele polvo é realmente macio? Fácil, é só percorrer o lungomare de Bari (a avenida beira-mar, já expliquei isso nos outros posts) e escolher um polvo que esteja apanhando. O processo se chama “sbattere il polipo” (bater o polvo). A gente vê dezenas de pescadores batendo no polvo com uma pá de madeira, quanto mais tempo apanham mais macios ficam, mas o processo completo exige ainda a “centrifugação”, que é colocar o animal numa bacia com água e sacudir aquela bacia, manualmente, por uma hora pra que a carne não fique pegajosa. Depois de tudo isso é só desembolsar uma boa quantidade de euros pra poder levar pra casa a iguaria, fresca e “sbattuta”.  E se não quiser comê-lo cru existem outras opções: fervido, ao forno, na grelha, em espetinhos como “churrasquinho”, mas lembre-se, sem nenhum tempero, depois de pronto umas gotas de azeite de oliva são permitidas. E buon appetito!

Este é um videozinho que fiz neste verão no lungomare de Bari, no momento que o polvo era "sbattuto".

Lulas e sepias (calamari e seppie)

Ouriço do mar (riccio di mare)

Noci di mare

Espetinhos de polvo

Nosso protagonista

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

07 - CHE SI MANGIA OGGI?

Hoje quero falar de comida!  Já não via a hora de fazer um post sobre a gastronomia da Puglia, por mim teria feito no segundo dia mas antes era preciso falar um pouco das minhas cidades adotivas, Adelfia e Bari, até pra fazer valer o nome do Blog também.

Acho que todo mundo sabe que a comida na Itália é um patrimônio cultural, comida é quase uma religião, o povo tem verdadeira devoção pela boa mesa.  Quando vim pra cá estranhava uma pergunta que ouvia insistentemente todos os dias: Che si mangia oggi? (o que se come hoje?) . No início pensava  que me perguntavam porque queriam saber  se eu,  por ser brasileira, cozinhava algo raro, exótico, ou indo um pouco mais além, já pensando de forma maldosa eu me dizia: “ihhh!!!esse povo tá querendo saber se eu sei cozinhar”, ou então porque queriam bisbilhotar a vida dos outros.  Depois de um tempinho me dei conta que a pergunta era dirigida pra todos,  no bar, na rua quando se encontrava um conhecido, na fila do  supermercado, até o frentista do posto de gasolina depois de receber o pagamento e antes de dizer ciao, arrivederci, vinha com a pergunta: che si mangia oggi? Foi aí que comecei a entender a importância da comida pra eles,  comer é o momento mais importante do dia e é sagrado.  Mas o ritual não parava na pergunta, a resposta trazia uma descrição elaboradíssima do que comeriam como primeiro e segundo pratos.  Cada  prato tem seu nome próprio, não se pode dizer simplesmente: massa! É preciso dizer o nome da massa, tipo: cavatelli ai frutti di mare, ou orecchiette al cime di rape, se a gente diz orecchiette, perguntam de que forma será preparado.  As massas, por exemplo, têm um tipo de preparação pra cada uma e são milhares de tipos,  não se resumem em spaghetti, fettuccine, penne, cappelletti, ravioli, gnocchi (nhoque), lasagna, cannelloni,  pra citar aquelas que lembro nos supermercados brasileiros. Então é preciso aprender que ao estilo aglio e olio, por exemplo, só se pode fazer  o spaghetti,  que alla carbonara só vai bem com fettuccine e spaghetti, e assim por diante... É preciso anos pra aprender tudo isso! Eu estou no pré-primário da cozinha italiana, quem sabe dentro de mais alguns anos eu consiga dizer  rapidamente e em detalhes che si mangia oggi!
Aqui ficam algumas dicas do que comer em Bari, aquilo que é típico da Puglia. E amanhã conto mais!





Em primeiríssimo lugar a focaccia, que é o lanche de todas as horas.Tá na rua e falta ainda um tempo pro almoço? Entre numa focacceria e peça a tradicional, com tomate e azeitona,  a focaccia tem batata na mistura da massa e é uma delícia. Também substitui tranquilamente o almoço, e um pedaço custa entre 1 euro e 1 euro e 50 centavos.
(foto: web)
Se preferir provar a autêntica pizza barese, indico duas pizzarias impressionantemente boas:  
1. Al Bucco, na  Via  NITTO DE ROSSI 2/a, aqui o site:   http://www.pizzerialbuco.com/    - quem gosta de verdura sugiro a pizza de cime di rape, e tem também a de sponzale (cebolinha) con ricotta dura, que é sensacional! Mas antes peça o delicioso antispasto!
2. Da Donato, na Via SAGARRIGA VISCONTI, 13, aqui tem um link que fala deles: http://www.oraviaggiando.it/Ristorante-Pizzeria-Da-Donato-Bari-Ristoranti-tipici-regionali-S26845.html , o antipasto é também maravilhoso!
(foto: web)
Se quiser provar a massa típica, o orecchiette, o mais tradicional é pedir al cime di rape, uma verdura da família do brócoli, porém a parte que se prepara são as folhas que são muito longas.
Outros dois pratos tradicionais são riso, patate e cozze (arroz, batata e marisco), e fave e cicoria (fava com chicória).
Riso, patate e cozze  (foto: web)
Fave e cicoria  (foto: web)



terça-feira, 22 de novembro de 2011

06 - BARI VECCHIA

Bari Vecchia, também chamada de “città antica”, ou ainda “centro storico”, é um mergulho naquilo que se pode chamar  a Bari profunda,  a identidade da cidade.  É ali que  podemos conhecer realmente a essência de Bari.   Bari Vecchia é autêntica,  é popular, pelas ruas as pessoas gritam,  falam alto,  falam em dialeto,  cantam, vendem polenta frita e espetinhos de peixe ou carne.  A rua é a sala de estar dos seus habitantes.  É na rua que as mulheres  fazem e vendem o orecchiete  -a massa típica da Puglia que tem a forma de uma orelhinha-, é na rua onde as crianças brincam, porque as casas não têm pátio ou jardim. Nesta zona medieval  que mais parece um laberinto  não existem calçadas, as portas se abrem sobre a rua, os carros, quando a largura permite,  passam quase tocando as paredes.  Motinhos e lambretas  vão e vem incessantemente, e em alta velocidade, roçando os turistas que descem de algum cruzeiro pra visitar o bairro.  Os moradores são obrigados a varrer e lavar a rua várias vezes ao dia pra evitar que o pó e a sujeira entrem dentro das casas, que têm apenas a porta de entrada, e portanto pecisam ficar abertas constantemente pra que possa haver  ventilação, apenas uma cortina separa a rua da parte interna da casa.  Nos dias quentes de verão as famílias jantam fora, isso quer dizer que colocam a mesa  em plena rua, ou então levam mesa e cadeiras até o outro lado da muralha que separa Bari Vecchia do mar, e na calçada sobre a avenida beira mar, o Lungomare, elas jantam.  Bari Vecchia foi sempre protegida pelas muralhas e ainda  conserva uma grande parte dela, lugar lindo pra caminhar e ter uma bela vista do mar Adriático. Dentro  desta encantadora cidade antiga estão inúmeras igrejas, todas belíssimas, entre elas se destacam a Catedral de San Sabino e a Basílica de San Nicola, dedicada ao patrono da cidade,  ambas do século XII, e grandes expressões do estilo românico pugliese. Outro monumento importante é o Castelo Svevo, construído pelo imperador Federico II no século XIII , alguns museus,  e a  Faculdade de Estudos Clássicos da Universidade de Bari .  O bairro é também repleto de bares e restaurantes,  alguns muito típicos, outros modernos, a vida noturna é intensa durante todo o ano, com muitos espetáculos  ao ar livre nas praças Ferrarese e Mercantile. Bari Vecchia é o espaço mais democrático da cidade, pois é frequentada não só pelos seus moradores como também pelos habitantes de toda Bari, e é ponto  obrigatório para os turistas.
Repito a foto aérea de Bari que usei no post anterior porque mostra praticamente Bari Vecchia inteira. À esquerda no canto inferior da foto se vê a Basílica de San Nicola, mais ao centro a igreja que se destaca é a Catedral de San Sabino. (Foto:web by Giuseppe B.)

As casas de Bari Vecchia

Loja de artesanato típico perto da Basílica, é aqui que se compra, como recordação, a imagem de San Nicola, o padroeiro da cidade, ou a cerâmica típica de Bari que tem um galinho como símbolo.

O burburinho de Bari Vecchia à noite.

Preparação do cortejo medieval de San Nicola em frente ao castelo Svevo.

Moradoras de Bari Vecchia fazendo o orecchiette na frente de suas casas.

O mar Adriático visto do passeio sobre a muralha.

Basílica de San Nicola

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

05 - BARI, A ILUMINADA

Bari é daquelas cidades iluminadas, a luz entra por todos os lados, pois está entre o mar e uma enorme planície, não existem montanhas onde o sol possa se esconder, a gente vê o nascer do sol desde os primeiros raiozinhos que começam a sair da terra (claro que só os que acordam cedo podem ter essa experiência, o que está longe de ser o meu caso), e depois, no fim da tarde dependendo em que parte da cidade se está, a gente vê o sol mergulhar no mar ou entrar de novo na terra. Bari tem luz nas quatro estações do ano,  chove pouco por aqui, tempestades são coisas raras,  em dois anos como habitante do lugar  vi só duas tempestades completas, ou seja, com direito à ventania, raios, relâmpagos, trovões, tarde que repentinamente vira noite, baldes de água que caem do céu...Os nativos se apavoram, até porque chuvarada de uma hora é o suficiente pra alagar a cidade e virar manchete da Gazzetta del Mezzogiorno (o jornal local) no dia seguinte.

Mas voltando à “capital da luz natural” (o título é invenção minha) do sul da Itália, Bari tem ótimas temperaturas, o verão é muito quente, as temperaturas estão sempre em torno aos 30 graus,  e o inverno é moderado, 12 à 15 graus durante o dia. Podem haver dias de extremo frio ou extremo calor, mas são exceções.  As boas temperaturas convidam à praia. Bari tem duas grandes praias públicas que ficam no centro da cidade, dois dados que chamam a atenção, primeiro por serem públicas, já que a maior parte das praias em toda a Itália são privadas, quer pegar uma praia? Então pague. São os indefectíveis Lidos, que têm permissão pra fechar a praia com uma cerca e cobrar entrada. E em segundo lugar porque  ficam no centro, espaço nobre que geralmente são concedidos à exploração privada.  Em Bari a prefeitura organizou duas praias, Pane e Pomodoro (adoro esse nome! Não é singelo uma praia que se chama Pão e Tomate? ), e Torre Queta, em ambas a população tem banheiros e duchas sem precisar pagar nada, além de parquinho pras crianças, espaço pra caminhar, jardins, bares.  Realmente uma comodidade.  

Então, quem pretende visitar a Itália no inverno europeu, e não curte muito o friozão e a neve, já sabe onde encontrar um inverno ameno.  Se a pessoa já conhece a Itália, faz uma parada de dois ou três dias em Roma, sempre vale a pena rever, e depois  vem pra Puglia de trem ou avião, Roma-Bari são 4 horas de viagem no trem Eurostar, e de avião são 50 minutos. Vocês não vão se arrepender!

Pane e Pomodoro no mês de agosto (a foto não é minha, foi publicada em dois jornais locais).
Pane e Pomodoro num feriado no início da primavera, no mês de maio.
Bari em pleno inverno
O pequeno cais, ao fundo o Forte e parte da muralha que protegia Bari Vecchia.


Que tal um giro por Bari? 
Pôr do sol na praia de Torre Queta


quarta-feira, 16 de novembro de 2011

04 - BARI

(Este post é pra Olívia, Bela, Cícero, Nilza, Claudia, Lana, Luis e Thanar)

Outro dia estava pensando que Bari e Porto Alegre têm algumas coisas em comum,  são capitais, estão no extremo sul do país, ambas possuem  um porto,  e as duas são cidades de passagem, aquele tipo de cidade que as pessoas dizem: “Ah! Sos de Porto Alegre? Pasé por allí cuando fui a Camboriú!”, ou então: “Estive em Porto Alegre só de passagem, do aeroporto o tour nos levou pra Gramado”.  

Bari é uma cidade que as pessoas conhecem por acaso, saem do aeroporto e vão direto pegar algum cruzeiro que vai pra Grécia e Turquia, no máximo dormem uma noite na cidade porque não conseguiram uma conexão imediata e o navio só parte na manhã seguinte.  Por  mais esforços que o governo da Puglia vem fazendo na tentativa de incluir Bari e toda a Região na rota do turismo internacional as pessoas só vêm especialmente até aqui quando já conheceram as mundialmente famosas Roma, Florença, Veneza e Milão,  depois tem ainda Nápoles e a Costa Amalfitana, a Sicília, as rotas do vinho pela Toscana...bom, se a pessoa já viu tudo isso, ainda assim virá a Bari porque tem algum amigo que mora na cidade.  E acho que essa é uma situação que não vai mudar nunca. Péssimo pra economia local, porém um alento pra quem vive aqui e está à salvo do turismo predatório. Os amigos e parentes que já vieram me visitar sabem do que eu estou falando (não disse? descobriram  Bari e a Puglia porque me conhecem!).  Todos foram unânimes em dizer  que tinham ficado surpreendidos com o que viram. Nos próximos posts vou contar um pouquinho da história de Bari, suas curiosidades, e dar algumas dicas pra quem quiser ampliar seu roteiro pela Itália.

Achei numa página do facebook, dedicada a Bari, esta foto aérea pra que vocês possam ter uma idéia geral da cidade. (foto by Giuseppe B.)

Um dos lugares de Bari que eu mais gosto é a cidade antiga, conhecida como Bari Vecchia.


Assim como em Porto Alegre o pôr do sol daqui é sempre um espetáculo!




terça-feira, 15 de novembro de 2011

03 - LUZES E FOGOS DE SAN TRIFONE

Ontem falei dos festejos de San Trifone,  e deixei pra hoje dois detalhes que fazem da festa uma experiência única: as luzes e os fogos.  Quando vim morar aqui ouvia os comentários de que no dia do santo faziam uma grande competição de fogos de artifício à tarde, sempre achei que havia alguma coisa errada,  afinal, não é à noite que queimam fogos de artifício?  No ano passado, minha estréia nas festividades, aprendi que os tais fogos eram na verdade uma competição de explosões.  Experiência “inenarrável” e quase surreal, eu diria. O povo todo vai pra beira de uma estrada e de lá acompanha a explosão de foguetes em campo aberto, participam seis concorrentes e a barulheira dura umas três horas. A estas alturas vocês devem estar se perguntando que raios se avalia num concurso desses, pois bem, avalia-se a altura que alcança o foguete, a potência da explosão, o ritmo, e por último a tão esperada “bateria final” quando o ritmo das explosões atinge tamanha velocidade que parece que a cidade está sob bombardeio. Este ano não fui assistir, fiquei em casa pra ver qual era a sensação, e parecia um verdadeiro terremoto. Qualquer vídeo que se assista não dá a real dimensão do “fenômeno”.  Em todo caso coloquei um vídeo pra vocês tentarem entender o que contei, coloquem no volume máximo e usem fones de ouvido!

Já as luzes...só encontro um adjetivo: sublime!  Iluminar as praças em dia de festas é uma tradição muito antiga do sul da Itália, quem viu Baaria, filme de Giuseppe Tornatore que se passa na Sicília no início do século XX, talvez lembre de uma cena em que aparece uma praça com esta iluminação alegórica. Dar luz às praças é uma arte que passa de geração em geração, são muitos os artesãos que criam este quebra-cabeça de madeira e lâmpadas que depois é montado, durante vários dias, pedaço a pedaço com grande paciência e habilidade.  Essas luzes emocionam,  envolvem o ambiente numa aura de passado, é comovente ver a expressão de velhos, adultos e crianças no momento em que elas são acesas oficialmente, a cara de deslumbramento diante da descoberta das cores e formas ,que durante a semana de montagem ficava apenas na imaginação de cada um.  Mas o que mais comove é o brilho nos olhos daqueles senhores de mais de oitenta anos, que são muitos em cidadezinhas como Adelfia, que já viram quase um século destas luzes, e ano após ano  “correm” em grupos pra praça, pra se surpreenderem com a atemporalidade das luzes de San Trifone.