Quando eu dizia, há dois anos atrás, que vinha morar em Bari, muitos perguntavam
espantados: "- Em Bali?! Por que tão longe?", ou então: "Bari...
Bariloche?". Não bastava dizer somente Bari, tinha que dar as coordenadas
geográficas: sul da Itália, no salto da bota, às margens do mar Adriático, com
vista pra Grécia e pra Albânia, só assim ia situando um pouco as pessoas. Hoje
estou aqui, em Bari, capital da Puglia, e finalmente decidi contar parte dessa
aventura. Este blog vai ser uma espécie de colcha de retalhos, se eu tiver tempo
pretendo falar de tudo que gosto e me interesso, mas quero principalmente falar
desta terra fantástica. Bem-vindos!

segunda-feira, 19 de março de 2012

19 - FALÒ DI SAN GIUSEPPE


Post relâmpago pra contar que hoje, 19 de março, se festeja o Dia dos Pais na Itália e em muitos países da Europa,  justamente porque é o dia de São José (San Giuseppe). É uma data em que tradições cristãs e pagãs se misturam. Na noite de San Giuseppe se faz uma grande fogueira onde queima-se uma enorme quantidade de lenha seca simbolizando o fim do inverno e a chegada da primavera, que traz com ela o renascimento da natureza,  costume anterior ao cristianismo. A essa fogueira se dá o nome de falò. Também é o dia de comer a zeppola, doce típico desta festividade aqui no sul da Itália.
Adelfia também tem sua fogueira, ou o seu falò, que foi queimado hoje às 20:30, e aí estão as fotos pra vocês.  E FELIZ DIA DOS PAIS!




Zeppola di San Giuseppe




sexta-feira, 2 de março de 2012

18 - LUCIO DALLA + PUGLIA



Impossível não falar de Lucio Dalla um dos maiores artistas italianos, que se considerava pugliese de coração. Lucio morreu ontem, 1º. de março, vítima de enfarte, na cidade suíça de Montreux. Ironia do destino ou não, morreu justamente na cidade que é mundialmente conhecida pelo famoso Festival de Jazz, estilo no qual iniciou sua carreira e pelo qual era apaixonado. Sua morte pegou toda a Itália de surpresa, pois o cantor estava em Montreux começando uma nova turnê que incluía shows em vários países europeus, e apenas havia participado do festival de Sanremo com a belíssima canção Nanì.  Lucio Dalla era um “pequeno notável”.  Baixinho, e fora dos padrões de beleza dos ídolos italianos dos anos 60, tinha um talento gigantesco. Tocava piano, sax, e era considerado um virtuose do clarinete, tinha formação jazzística, iniciou sua carreira em 1962, e sua produção musical passou pela música experimental, pela canção de autor, fazendo até incursões pela lírica. Fez também cinema. Suas letras poéticas, e muitas vezes falando dos desvalidos, logo ganharam o público, e Lucio passou a fazer parte do grupo de estrelas da música italiana. O primeiro grande sucesso foi Gesù Bambino, que por problemas com a censura da época, foi apresentada no Festival de Sanremo de 1971 com o nome de 4 marzo 1943, sua data de nascimento. A música teve uma versão no Brasil feita por Chico Buarque, chamada Minha História. Após inúmeros sucessos, Lucio compôs Caruso, que se tornou uma das canções mais famosas na história da música italiana.
Lucio Dalla tinha uma forte ligação com a Puglia. Sua mãe nasceu em Manfredonia, e ele, nascido em Bologna, na Emilia Romagna, passava suas férias no Gargano (o assunto dos dois posts anteriores). Foi ainda pequeno que conheceu e se encantou pelas ilhas Tremiti, que ficam em frente ao Lago de Lesina (lembram do lago?). Mais tarde comprou uma casa ali e tornou-se um defensor das ilhas participando ativamente contra a exploração petrolífera do Adriático que ameaça o arquipélago.  Era cidadão honorário tanto de Manfredonia quanto das Ilhas.
Lucio Dalla nas ilhas Tremiti
AS ILHAS TREMITI
Pertencente à província de Foggia e ao Parque Nacional do Gargano, são chamadas as pérolas do Adriático. Desde 1989 parte do seu território constitui a Reserva Natural Marinha Ilhas Tremiti.
Embora sendo o menor município da Itália em território e o segundo menos populoso, tem apenas 496 habitantes, é importante centro turístico da região gargânica pela qualidade de suas águas. O pequeno arquipélago é constituído por 6 ilhas, mas só duas são habitadas, San Nicola, onde vive a maior parte da população, e San Domino, onde se encontram as principais estruturas turísticas e é a única ilha com praias arenosas.
Pode-se chegar às ilhas com as barcas que partem de Manfredonia, Vieste, Peschici, Rodi Garganico ou Termoli.
                            Parte do Arquipélago de Tremiti (foto Regione Puglia)

Ilha San Nicola ao fundo  (foto web)
Lucio Dalla em sua casa de Tremiti  (foto Ansa)
(foto de Antonio Notariello)
(foto de Antonio Notariello)
(foto web)
A incrível transparência das águas de Tremiti (foto web)
Chega-se ao arquipélago partindo de Termoli, Rodi Garganico, Vieste, e Manfredonia.

quinta-feira, 1 de março de 2012

17 - VIAJANDO PELO GARGANO - PARTE 2

Onde foi mesmo que paramos no último post?!  Aaah! Pessoal ligado, hein? Isso mesmo, estávamos caminhando pelas ruelas do centro histórico de Vieste, aquela cidade maravilhosa do Gargano. Pois hoje continuamos o passeio ainda ali, porque depois de visitar a parte histórica, e comer, em um dos tantos restaurantes típicos, um bom orecchiette con ragù d'agnello (orecchiette -a massa da Puglia-com cozido de cordeiro), é hora de descer e conhecer a praia de Vieste que além da areia branquinha e do mar sensacional, tem uma montanha de pedra simplesmente cravada entre o mar e a areia, um verdadeiro capricho da natureza.





Terminada a visita nos dirigimos a Peschici, cidade de aproximadamente 5 mil habitantes, que fica a uns 35 km de Vieste. O centro histórico é bem menor que o de Vieste, mas não menos encantador, até porque ele termina literalmente num precipício.  É possível entrar de carro até o centro, depois de encontrar um lugar pra estacionar, caminhe muito, e leve em consideração que Peschici é mais alta que Vieste, e suas ruelas são muito mais íngrimes. O centro termina nas ruínas do castelo, como se vê na foto abaixo, a vista é realmente de tirar o fôlego.

Peschici também tem belas praias, e é um dos balneários mais concorridos no tórrido verão pugliese.



Saindo de Peschici vamos em direção a Rodi Garganico, cidadezinha de 3500 habitantes. Rodi tem duas praias, vindo de Peschici você chega pela praia de Levante, depois é preciso atravessar a cidade para poder chegar à outra praia chamada Ponente, e só assim continuar viagem.

Foto aérea de Rodi Garganico com as praias de Levante e Ponente. (foto Wikimedia Commons)


A estas alturas da viagem já estamos começando a abandonar o mar para poder sair do Gargano. A estrada agora passará em meio às plantações de tomates e oliveiras, e muitas são as cidadezinhas que se encontram no caminho: Carpino, Cagnano Varano, Sannicandro Garganico, Apricena. Essa parte baixa do Gargano tem dois lagos enormes,Varano e Lesina (é palavra proparoxítona, pronuncia-se Lésina), que estão separados do mar Adriático por uma estreita faixa de terra, e a paisagem é única. No lago de Lesina existe uma grande criação de enguias, e não é difícil imaginar qual é o prato típico local: minestra d'anguilla! (sopa de enguia). Considerada uma verdadeira iguaria, conta-se que esse prato era o preferido do Imperador Federico II (lembram dele?), no distante século XIII. 

Abaixo um mapinha que mostra os dois lagos, e assim vocês têm uma idéia de tudo o que já viajamos desde Margherita di Savoia.


É aqui, depois do lago de Varano que concluímos nosso roteiro de quase 200 km entre Margherita di Savoia onde iniciamos a viagem, e San Severo, onde pega-se novamente a superstrada 16 Bis pra retornar a Bari.

Se você puder dedicar dois dias pra conhecer o Gargano acrescente a este roteiro as cidades de Monte Sant'Angelo e San Giovanni Rotondo que citei no post Conhecendo a Puglia de Norte a Sul, sobre as quais falarei em breve.

Fiquem com mais fotos!

Peschici
Peschici

Peschici

Peschici

Peschici

Peschici

Peschici

Peschici

Peschici

Peschici

Lago de Varano, na parte inferior da foto o mar Adriático, separado do lago por aquela estreita faixa de terra.(foto web)

Lago di Lesina. Em primeiro plano a cidade de Lesina, depois o lago e o mar.